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Estudo de caso 2.1: usando redes sociais como rádio-escuta

Anthony De Rosa é editor-chefe da Circa, uma organização de notícias com foco em tecnologias móveis. Ele atuou como editor de redes sociais da Reuters e tem mais de 15 anos de experiência como especialista em tecnologia em empresas como Newmark Knight-Frank, Merrill Lynch, Bristol-Myers Squibb e Reuters Media. Em 2011, ganhou o prêmio de Best Storytelling Innovation da Reuters pela cobertura de acontecimentos em tempo real usando blogs e redes sociais. Recentemente, foi agraciado com um prêmio de jornalismo do El Mundo. O Twitter dele é: @AntDeRosa.

O meio pelo qual conseguimos informações pode mudar, mas os princípios de verificação sempre se aplicam. Questionar o que você vê e escuta, procurar e verificar a fonte, além de falar com fontes oficiais e primárias, continuam sendo os melhores métodos para informar com precisão.

No Circa, nós monitoramos as últimas notícias do mundo inteiro, mas publicamos apenas o que podemos confirmar. Isso exige que usemos redes sociais para monitorar as notícias enquanto elas acontecem, de modo que possamos aplicar a verificação.

Lembre-se que as informações nas redes sociais devem ser tratadas da mesma forma que aquelas vindas de qualquer outra fonte: com extremo ceticismo.

Em geral, vejo a informação da mesma forma que encararia um fato que ouvi em uma rádio-escuta da polícia. Absorvo muito e retransmito muito pouco. Uso a informação como uma pista para seguir de forma mais tradicional. Faço ligações telefônicas, envio e-mails e entro em contato com fontes primárias que possam confirmar (ou não) o que estou vendo e ouvindo.

No caso do tiroteio de 2013 no aeroporto de Los Angeles, por exemplo, nós observamos relatos vindos de testemunhas oculares e contactamos o LAPD, o escritório local do FBI e o investigador do condado de Los Angeles (LA county coroner). Se não pudéssemos verificar de forma independente o que ouvimos e vimos, atrasávamos a publicação da notícia.

Mesmo quando grandes empresas de comunicação já estavam divulgando a informação, nós esperávamos até poder confirmar com fontes primárias. Frequentemente, esses veículos citam fontes policiais não-identificadas. Como vimos no caso do atentado na Maratona de Boston, no tiroteio na Marinha de Washington e em outras situações, fontes anônimas ligadas às autoridades policiais muitas vezes não são confiáveis.

Usando o TweetDeck para monitorar atualizações

Se as redes sociais são uma rádio-escuta, o TweetDeck é o seu rádio. Existem algumas maneiras de criar seu próprio painel e monitorar o fluxo de atualizações.

Eu monto listas no Twitter, com antecedência, para usos específicos. Meus tópicos incluem polícias, repórteres e veículos de comunicação locais confiáveis, além de repórteres especializados. Posso colocar essas listas sob a forma de colunas no TweetDeck e fazer buscas nelas, ou simplesmente deixá-las como um feed de monitoramento.

Avião de pequeno porte aterrissa no Bronx

Foi assim que usei as buscas no TweetDeck durante o pouso de emergência de um pequeno avião no Bronx, em janeiro de 2014, para descobrir notícias de última hora, triangular e verificar o que encontrei.

Vários tweets apareceram na minha linha do tempo (timeline) mencionando a aterrissagem de um avião na Major Deegan Expressway, no Bronx, em Nova York, o que não é um acontecimento normal.

O avião pousou por volta das 15h30 no horário local de Nova York (o tweet está com o fuso-horário padrão do Pacífico, ou Pacific Standard Time). Esse foi um dos primeiros tweets que mencionaram a aterrissagem. Sigo algumas contas de Twitter na região de Nova York, que atuam como um tipo de rádio-escuta policial do que acontece na área. Não reproduzo as informações até poder confirmá-las, mas é útil ter essas fontes como um alerta em potencial, para a partir daí investigar mais.

Depois de ver os primeiros relatos, comecei uma busca no TweetDeck usando o recurso de mostrar tweets que só têm imagens ou vídeos. Usei os termos de busca "small plane" ("pequeno avião") e "Bronx".

Os resultados acima mostram que fontes de notícia locais e confiáveis estavam noticiando a aterrissagem do avião e que elas tinham imagens do acontecimento. Também encontrei outras informações e imagens através de uma busca mais ampla de todos os tweets usando um filtro de localização (até 8 km de Nova York) e as palavras-chave "pequeno avião" e "Bronx":

Também busquei na minha lista especializada, formada por contas verificadas pertencentes a agências governamentais do Estado e da cidade de Nova York, usando novamente o filtro de localização. Essas fontes confiáveis (abaixo) me ajudaram a confirmar o acontecimento.

A essa altura, entrei em contato com o escritório de informações públicas do Corpo de Bombeiros de Nova York (FDNY) para confirmar o que havia visto e perguntar sobre qualquer outro detalhe que eles tivessem. Disseram que havia três pessoas a bordo: dois passageiros e um piloto. Depois, fomos informados sobre a marca e o modelo do avião, o nome da pessoa com o qual o avião havia sido registrado e o hospital para onde o piloto e os passageiros foram levados. As redes sociais nos levaram ao acontecimento, mas tivemos que ir atrás dos detalhes da forma tradicional.

Sentindo que havíamos compilado uma quantidade suficiente de informações confiáveis para começar, apresentamos nossa matéria (veja abaixo). O aplicativo Circa oferece aos leitores a opção de "seguir" uma notícia e receber atualizações à medida em que mais informações são adicionadas. Nosso processo consiste em publicar uma notícia o mais rápido possível com informações verificadas e continuar acrescentando atualizações. O TweetDeck nos permite sair na frente com uma notícia ainda em desenvolvimento e procurar pessoas confiáveis (forças policiais, fontes primárias) que possam confirmar a validade das atualizações das redes sociais. Em alguns casos, contactamos a pessoa que enviou a informação no Twitter e tentamos determinar se ela é confiável.

Construindo um conjunto de provas

As informações que você vê nas redes sociais deveriam ser o primeiro passo para tentar verificar o que realmente aconteceu, não a palavra final em termos de notícia.

O segredo é observar o máximo possível, absorver informações e compará-las a outros conteúdos para construir um conjunto de provas. Encontre formas de corroborar o que você achou contactando diretamente e verificando a confiabilidade das pessoas que estão conectadas ao conteúdo que você encontrar.

Como havia dito, trate as redes sociais como rádio-escuta.


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