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Capítulo 9: criando um processo e uma checklist de verificação

Craig Silverman é um jornalista empreendedor e fundador e editor do Regret the Error, um blog do Poynter Institute sobre erros da mídia, precisão e verificação de informações. Ele também desenvolveu um curso sobre checagem de dados na era digital para a Poynter News University. Além disso, Craig Silverman atua como diretor de conteúdo da Spundge, uma plataforma que permite aos profissionais crescer e monetizar seus conhecimentos através de conteúdo. Anteriormente, Silverman ajudou a lançar a OpenFile, uma startup de notícias online que publicava reportagens locais em seis cidades canadenses. Ele é o autor de "Regret The Error: How Media Mistakes Pollute the Press and Imperil Free Speech" ("Lamente o erro: Como erros da mídia poluem a imprensa e põem em risco a liberdade de expressão", em tradução livre) e seu trabalho foi reconhecido por instituições como U.S. National Press Club, Mirror Awards, Crime Writers of Canada e National Magazine Awards (Canadá). Seu Twitter é @craigsilverman.

Rina Tsubaki lidera e administra as iniciativas "Verification Handbook" e "Emergency Journalism" no European Journalism Centre na Holanda. Emergency Journalism reúne recursos para profissionais de mídia e comunicação que noticiam sobre situações voláteis na era digital, e Tsubaki tem falado com frequência sobre esses tópicos em vários eventos, incluindo uma reunião da ONU e o Festival Internacional de Jornalismo. Anteriormente, ela gerenciou vários projetos com foco no papel dos cidadãos no cenário em transformação da mídia, e em 2011 ela foi a principal colaboradora do Internews Europe's report sobre o papel da comunicação durante o terremoto que ocorreu em março daquele ano no Japão. Ela também colaborou com o Hokkaido Shimbun, um jornal diário regional japonês. O Twitter dela é @wildflyingpanda.

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Fundamentos da verificação

  • Estabeleça um plano e procedimentos para verificação antes que ocorram desastres e notícias de última hora.
  • Verificação é um processo e pode variar de acordo com cada fato.
  • Verifique a fonte e o conteúdo que ela fornece.
  • Nunca reproduza diretamente ou confie em fontes, sejam elas testemunhas, vítimas ou autoridades. Relatos em primeira mão podem ser imprecisos ou manipuladores, alimentados pela emoção ou moldados por falhas de memória ou perspectivas limitadas.
  • Desafie as fontes, perguntando "como você sabe disso?" e "de que outra forma você sabe disso?".
  • Triangule o que elas afirmam com outras fontes confiáveis, incluindo documentação, tais como fotos e gravações de áudio/vídeo.
  • Pergunte a si mesmo: "eu sei o suficiente para verificá-lo?" Você tem conhecimento suficiente sobre os temas que exigem a compreensão de complexidades étnicas, religiosas e culturais?
  • Trabalhe em conjunto com sua equipe e com especialistas; não faça tudo sozinho.

Verificando conteúdo gerados pelo usuários

  • Parta do pressuposto de que o conteúdo é impreciso ou foi remendado, cortado, editado, duplicado e/ou reenviado sob um contexto diferente.
  • Siga estes passos ao verificar conteúdo gerado pelos usuários (UGC):

    1. Identifique e verifique a fonte original e o conteúdo, incluindo local, data e hora aproximada.
    2. Triangule e desafie a fonte.
    3. Obtenha permissão do(s) autor(es) para utilizar o conteúdo (fotos, vídeos, áudio).

  • Sempre colete informações sobre quem enviou o conteúdo e verifique o máximo possível antes de entrar em contato e perguntar diretamente se as pessoas são de fato vítimas, testemunhas ou criadores do conteúdo.

1. Identifique e verifique a fonte original e o conteúdo, incluindo local, data e hora aproximada

Procedência

A primeira etapa da verificação de UGC (conteúdo gerado pelos usuários) é identificar o conteúdo original, seja ele um tweet, imagem, vídeo, mensagem de texto etc. Algumas perguntas para começar:

  • Você pode encontrar o mesmo conteúdo/mensagem ou similar em outro lugar online?
  • Quando a primeira versão dele foi carregada/filmada/compartilhada?
  • Você consegue identificar o local? O conteúdo está geolocalizado?
  • Existem sites linkados a partir dele?
  • Você consegue identificar a pessoa que compartilhou/enviou o UGC e contactá-la para obter mais informações? (Consulte a seção "Fonte" abaixo.)

Ao lidar com imagens e vídeos, use o Google Image Search ou o TinEye para realizar uma busca reversa da imagem/vídeo. Se vários links para a mesma imagem aparecerem, clique em "Ver outros tamanhos" para encontrar a mais alta resolução/tamanho disponível, que normalmente é a imagem original.

Para verificar a procedência de imagens:

  • Use o Google Image Search ou o TinEye para realizar uma busca de imagem reversa. Se vários links para a mesma imagem aparecerem, clique em "Ver outros tamanhos" para encontrar a maior resolução/tamanho, que normalmente é a imagem original.
  • Verifique se a imagem tem todos os dados EXIF (metadados). Use um software como o Photoshop ou ferramentas gratuitas como o Fotoforensics.com ou Findexif.com para ver informações sobre o modelo da câmera, a data e hora da imagem (atenção: os dados podem informar configurações-padrão do fabricante) e as dimensões da imagem original.
  • Redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram removem a maioria dos metadados. O Flickr é uma exceção. Experimente usar Geofeedia e Ban.jo para identificar os dados de GPS do dispositivo móvel que carregou a imagem.

Para verificar a procedência de vídeos:

  • Use siglas, nomes de lugares e outros termos para fazer uma boa pesquisa de palavras-chave em plataformas de compartilhamento de vídeo como YouTube, Vimeo e Youku.
  • Use o Google Translate ao lidar com conteúdo em uma língua estrangeira.
  • Use o filtro de data para encontrar os primeiros vídeos que correspondem às palavras-chave.
  • Use o Google Image Search ou o TinEye para realizar uma busca reversa de miniaturas de vídeo (thumbnail).

Fonte

Depois de identificar o conteúdo original, reúna informações sobre seu(s) autor(es). O objetivo é confirmar se a pessoa por trás da conta é uma fonte confiável. Examine a "pegada digital" de um upload fazendo as seguintes perguntas:

  • Você pode confirmar a identidade e o contato da pessoa?
  • Você está familiarizado com esta conta? O conteúdo e a reportagem sobre ela se mostraram confiáveis no passado?
  • Verifique o histórico do uploader na rede social:
    • Quão ativo ele é na conta? Sobre o que ele fala e o que compartilha?
    • Que informações biográficas são evidentes na conta? Existem links para outro lugar?
    • Que tipo de conteúdo ele havia carregado antes?
    • Onde o uploader mora, a julgar pelo histórico da conta?
  • Verifique a quem eles estão conectados na rede social:
    • Quem são os seus amigos e seguidores?
    • Quem eles estão seguindo?
    • Com quem eles interagem?
    • Eles estão nas listas de mais alguém?
  • Tente encontrar outras contas associadas com o mesmo nome/login de usuário em outras redes sociais, a fim de encontrar mais informações:
    • Se você encontrar um nome real, use as ferramentas de pesquisa de pessoas (Spokeo, White Pages, Pipl.com e WebMii, por exemplo) para encontrar informações como endereço, e-mail e número de telefone.
    • Confira outras redes sociais, como o LinkedIn, para saber mais sobre a experiência profissional da pessoa.
    • Confira se a conta do Twitter ou do Facebook é verificada, passando o mouse sobre o "tique" azul. Se a conta houver sido verificada pelo Twitter ou Facebook, um pop-up irá dizer "conta verificada" ou "página verificada".

Ao lidar com imagens e vídeos, adote a perspectiva da pessoa que os registrou. Essas perguntas também funcionam para verificar informações textuais. Faça para si mesmo as seguintes perguntas sobre a fonte para verificar a sua credibilidade:

  • Quem são eles?
  • Onde eles estão?
  • Quando eles chegaram lá?
  • O que viram (e o que é mostrado em sua foto/vídeo)?
  • Onde eles se posicionam?
  • Por que eles estão lá?

Conecte a atividade deles com quaisquer outras contas online que eles tenham fazendo estas perguntas:

  • Pesquise no Twitter ou Facebook qual é o código único do vídeo - existem contas filiadas?
  • Existem outras contas - Google Plus, um blog ou site - listadas no perfil de vídeo ou associadas a este upload de alguma outra forma?
  • Quais informações existentes nas contas de associados indicam localização recente, atividade, confiabilidade, predisposições ou interesses pessoais relacionados ao tema?
  • Há quanto tempo estas contas estão ativas? Quão ativos eles são? (Quanto mais tempo e mais ativos, mais confiáveis eles devem ser.)
  • Com quem as contas de redes sociais são relacionadas e o que isso nos diz sobre o uploader?
  • Podemos encontrar informações whois de um site afiliado?
  • A pessoa está listada em listas telefônicas locais ou em sites como Spokeo, Pipl.com ou WebMii ou no LinkedIn?
  • Seus círculos sociais online indicam que eles estão perto do acontecimento/local?

Conteúdo

Data

Verifique a data e a hora aproximadas, particularmente quando se trata de fotos/vídeos:

  • Observe as informações sobre o clima no dia e no local onde o evento aconteceu. As condições climáticas são as mesmas das previsões do tempo locais e de outros conteúdos sobre o mesmo acontecimento? Use o Wolfram Alpha para realizar uma pesquisa (por exemplo, "como estava o clima em Londres, Inglaterra, em 20 de janeiro de 2014?").
  • Procure em fontes de notícias reportagens sobre os acontecimentos desse dia.
  • Usando pesquisas de imagem e vídeo (YouTube, Google, TinEye etc.) veja se conteúdos anteriores do mesmo acontecimento antecedem seu exemplo. (Esteja ciente de que o YouTube determina a data e hora usando o horário padrão do Pacífico a partir do momento em que o envio começa.)
  • Para imagens e vídeo, procure quaisquer elementos identificadores que indiquem a data/hora, como relógios, telas de televisão, páginas de jornal etc.

Localização

Outro aspecto crucial da verificação é identificar a localização do conteúdo:

  • O conteúdo inclui informações automáticas de geolocalização? (Serviços como Flickr, Picasa e Twitter oferecem a opção de incluir localização, embora isso não seja infalível.)
  • Encontre pontos de referência para comparar com as imagens de satélite e fotografias geolocalizadas, tais como:
    • Placas/letreiros em prédios, placas de rua, placas de carro, outdoors etc. Use o Google Translate ou free.orc.com para tradução online.
    • Elementos da paisagem como serras, grupos de árvores, penhascos, rios etc.
    • Edifícios e construções como igrejas, minaretes, estádios, pontes etc.
  • Use a função "fotos" do Google Street View ou Google Maps para verificar se as fotografias geolocalizadas coincidem com a localização da imagem/vídeo.
  • Use o Google Earth para examinar imagens/vídeos mais antigos, já que ele fornece um histórico de imagens de satélite. Use a visão de terreno do Google Earth.
  • Use Wikimapia, a versão "crowdsourced" do Google Maps, para identificar pontos de referência.
  • Use condições meteorológicas, tais como luz do sol ou sombras, para determinar o horário aproximado. Use o Wolfram Alpha para pesquisar previsões do tempo em um lugar e horário específicos.
  • Placas de veículos.
  • Roupas.

Para vídeos:

  • Examine o(s) idioma(s) falado(s) no vídeo. Verifique se sotaques e dialetos correspondem à localização geográfica. Lembre-se que o Google Translate não oferece traduções corretas para alguns idiomas. Peça ajuda a pessoas que falam a língua.
  • As descrições de vídeo são consistentes e se originam predominantemente de algum local específico?
  • Os vídeos têm data?
  • Caso os vídeos em uma conta usem um logotipo, ele é o mesmo em todos vídeos? Está de acordo com o avatar na conta do YouTube ou Vimeo?
  • O uploader "raspa" (faz remendos/cortes) vídeos de veículos de comunicação e outras contas do YouTube ou só faz upload de conteúdos gerados pelo usuário?
  • O uploader escreve usando uma gíria ou dialeto identificável na narração do vídeo?
  • Os vídeos nesta conta têm uma qualidade consistente? (No YouTube, vá para Configurações e depois Qualidade para determinar a melhor qualidade disponível.)
  • As descrições de vídeo têm extensões de arquivo como .AVI ou .MP4 no título? Isto pode indicar que o vídeo foi carregado diretamente de um dispositivo.
  • A descrição de um vídeo no YouTube diz "Enviado via Captura do YouTube"? Isso pode indicar que o vídeo foi filmado em um smartphone.

2. Triangule e desafie a fonte

Depois de seguir os passos acima, pergunte a si mesmo:

  • As imagens/vídeos/conteúdo fazem sentido dado o contexto em que foram registrados?
  • Alguma coisa aparenta estar fora do lugar?
  • Algum dos detalhes da fonte ou respostas para as minhas perguntas não batem?
  • Algum veículo de comunicação distribuiu imagens/vídeos semelhantes?
  • Existe algo no Snopes relacionado a isso?
  • Alguma coisa parece estranha ou boa demais para ser verdade?

Quando entrar em contato com a fonte, faça perguntas diretas e compare as respostas com informações que você obteve através de sua própria investigação. Certifique-se de que as respostas deles correspondem às suas descobertas.

Para imagens:

  • Ao fazer as perguntas, reflita sobre o que você sabe a partir dos dados EXIF e/ou informações de geolocalização de ferramentas como Google Street View e Google Maps.
  • Peça-lhes para enviar outras imagens que tenham sido tiradas antes e depois da imagem em questão.
  • Se a imagem for de um local perigoso, verifique sempre se a pessoa pode falar com você em segurança.

Para vídeos:

  • Se você tiver dúvidas sobre a construção do vídeo, use softwares de edição como o VLC media player (gratuito), Avidemux (gratuito) ou Vegas Pro (pago) para dividir um vídeo em quadros.

3. Obtenha permissão do autor para utilizar o conteúdo

Leis de direitos autorais variam de país para país e os termos de uso são diferentes de serviço para serviço. Obter permissão para usar imagens, vídeos e outros conteúdos é essencial.

Ao procurar permissão:

  1. Seja claro sobre qual imagem/vídeo que você deseja usar.
  2. Explique como o conteúdo será usado.
  3. Esclareça como a pessoa deseja ser creditada. Ela prefere que você use um nome real, um nome de usuário ou que a credite anonimamente?
  4. Considere quaisquer consequências de utilizar o conteúdo e/ou o nome da pessoa. É necessário desfocar os rostos por razões de segurança e privacidade? Será que a pessoa que produziu ou enviou o conteúdo pode ser colocada em perigo se você a creditar com seu nome real?

Preparando-se para uma verificação de sucesso em desastres e situações de notícias de última hora

Aqui estão algumas dicas para criar um melhor processo de verificação:

1 . Construa e mantenha uma rede de fontes confiáveis

  • Crie uma lista de fontes confiáveis​incluindo oficiais e não oficiais, como socorristas, especialistas acadêmicos, ONGs, órgãos governamentais etc. Reúna em um banco de dados/planilha compartilhada não somente as contas de redes sociais, mas também números de telefone e e-mails.
  • Crie listas de Twitter organizadas em grupos lógicos com base em tópicos ou localização geográfica. Encontre as fontes confiáveis​através de pesquisas avançadas no Twitter e seguindo hashtags específicas. Você também pode usar as listas de interesse do Facebook e círculos do Google Plus, assinar os canais do YouTube e criar listas de reprodução.
  • Nunca trate aqueles com quem você se depara em redes sociais como apenas fontes. Trate-os como seres humanos e se envolva. Eles são seus colegas.
  • No meio da multidão, há fontes confiáveis que desenvolveram, seja profissionalmente ou não-profissionalmente, experiência em uma área temática específica. Há ambém fontes em um local específico.
  • Construa a confiança usando redes sociais e conhecendo as pessoas pessoalmente. Peça-lhes para recomendar e/ou ajudá-lo a verificar as fontes. Ao interagir com elas, você vai aprender quais são seus pontos fortes, pontos fracos, preconceitos e outros fatores.

2 . Identifique o papel que você/sua organização vai desempenhar no momento e quaisquer possíveis situações de catástrofes

  • Identifique o seu papel na comunicação de desastres.
  • Determine como você deve se comunicar de modo eficaz em caso de emergência.
  • Pense sobre quem você quer se comunicar, quais são as informações úteis para esses grupos-alvo e o tipo de linguagem que você deve usar para aconselhá-los.
  • Estruture sua comunicação interna e externa.

3 . Treine, converse e apóie sua equipe e seus colegas

  • Estabeleça o conjunto de ferramentas, fluxo de trabalho e procedimentos de comunicação para usar em situações de catástrofes.
  • Forneça treinamento situacional, especialmente para aqueles que vivem na área onde se espera que certos tipos de desastres aconteçam.
  • Forneça para sua equipe a possibilidade de participar em programas de treinamento sobre desastres oferecidos pelos serviços de emergência.
  • Prepare scripts/mensagens que serão usados em situações específicas de desastre.
  • Planeje contatos regulares com as principais fontes para assegurar que suas informações de contato estejam atualizadas.
  • Converse com sua equipe após a cobertura e ajuste seus planos de emergência e treinamento para adaptar-se a novos aprendizados.
  • Não subestime "traumas" e "estresses" resultantes da cobertura de crises. Ofereça apoio quando necessário.

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