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Estudo de caso 5.1: verificando um vídeo crucial do atentado de Boston

Malachy Browne é editor da Storyful, a primeira agência de notícias da era das redes sociais. Sediada em Dublin e com equipes na Ásia e nos Estados Unidos, Storyful ajuda seus clientes a descobrir, verificar e distribuir os mais valiosos conteúdos gerados por usuários através de mídias sociais. Antes de Storyful, Browne criou e editou o Politico.ie, um site irlandês de política e arquivo de notícias. Ele trabalhou para a revista de política irlandesa Village entre 2006 e 2008, além de ter sido editor do site da revista, Village.ie. Tendo trabalhado anteriormente como programador, Browne acredita firmemente em inovações nas redações e na capacidade da tecnologia para fortalecer o jornalismo. Ele é natural da cidade de Broadford, no Condado de Limerick, e vive em Dublin. Seu Twitter é @malachybrowne.

Um dos vídeos icônicos do trágico atentado na Maratona de Boston, em 2013, foi filmado por uma atleta correndo seu último quilômetro da maratona. Enquanto ela se aproximava da linha de chegada na rua Boylston, a segunda bomba foi detonada poucos metros à frente. Era um vídeo convincente, mas precisávamos verificá-lo.

Uma foto mostrando o momento da explosão foi publicada pelo jornalista Dan Boston Lampariello (abaixo), membro de uma das nossas listas de Twitter pré-verificadas e familiar com o Storyful. O tweet de Lampariello foi geolocalizado para a rua Boylston; essa informação, que veio de uma fonte confiável, ajudou a confirmar o local da explosão e também nos deu um ponto de referência para usar com o que foi mostrado no vídeo da atleta.

As imagens do Google Street View da rua Boylston (abaixo) confirmaram tanto a foto de Dan Lampariello quanto o ponto de vista da atleta conforme ela se aproximava da linha de chegada. De fato, observando com atenção verifica-se que alguns dos atletas filmados no vídeo são vistos na foto de Lampariello.

Esse processo confirmou o conteúdo do vídeo. Encontrar sua fonte original, por outro lado, foi mais complicado.

O vídeo foi carregado para uma conta do YouTube sem detalhes de identificação e com um nome de usuário obscuro, NekoAngel3Wolf. Uma busca no Twitter pelo código único do vídeo nos levou a um usuário que o estava compartilhando sob a alcunha de NightNeko3, mais uma vez sem dados pessoais. A referência "Neko" em ambos os perfis sugeriu que havia uma ligação entre eles.

Procurando perfis semelhantes em redes sociais, encontramos uma conta do Pinterest também registrada como NightNeko3, na qual constava o nome verdadeiro Morgan Treacy. Nossa equipe na Storyful localizou rapidamente a conta do Facebook de Morgan Treacy, uma adolescente cujas publicações vinham, de acordo com a geolocalização, de Ballston Spa, no Estado de Nova Iorque.

Morgan descreveu o vídeo no Twitter com a perspectiva da explosão vista pela sua mãe. Sabendo que uma maratona de prestígio como a de Boston provavelmente registraria o tempo dos atletas, verificamos o sobrenome "Treacy" na página de registro da Boston Athletic Association. Um só resultado foi encontrado: Jennifer Treacy, de 45 a 49 anos, do Estado de Nova York. Os registros sobre o tempo de Jennifer Treacy mostravam que ela ultrapassou a marca de 40 km às 14h38, mas não cruzou a linha de chegada dois quilômetros depois. Jennifer estava correndo a uma média de 10 minutos por milha, então teria estado próxima à explosão às 14h50, quando as bombas explodiram.

O site de busca de pessoas Spokeo.com nos deu um resultado para o nome Jennifer L. Treacy, 47, com um endereço em Ballston Spa, Nova Iorque. No LinkedIn, encontramos um perfil de Jennifer Treacy de Ballston Spa, funcionária do Departamento de Saúde do Estado de Nova York.

Uma última pista confirmou nossa investigação. Um homem chamado Gerard Quinn era amigo no Facebook de Morgan Treacy, que agora tínhamos quase 100% de certeza que era a filha de Jennifer. Quinn já havia deixado comentários em vídeos de família postados por Morgan. Então havia uma ligação entre ele e a família. Vimos no perfil de Facebook de Quinn (abaixo) que ele havia expressado orgulho pelo fato de sua sobrinha, Jennifer, ter ido correr a maratona de Boston. Ele havia colocado links para o mapa do seu percurso na maratona e para os registros do seu tempo de corrida. Ele também comentou mais tarde no Facebook que Jennifer estava OK depois da explosão e a caminho de casa.

Em uma lista telefônica pública, encontramos um número de telefone que nos permitiu falar diretamente com Jennifer Treacy. Ela confirmou que o vídeo era dela e que os meios de comunicação estavam autorizados a usá-lo. Ela também disse que havia informado as autoridades sobre a existência do vídeo.

Resumindo, todos os dados que confirmavam a veracidade daquele vídeo estavam disponíveis online através de ferramentas gratuitas: informações de localização, relatos do acontecimento, o histórico digital de quem fez o upload do vídeo e informações de contato do proprietário. A familiaridade com essas ferramentas nos permitiu verificar o vídeo em cerca de 10 minutos.


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